sexta-feira, 26 de novembro de 2010

I.

Não é fácil escrever sobre o que nos incomoda, sobretudo quando a clareza dos acontecimentos não acompanha meu raciocínio torto, ou o contrário. Talvez seja esse descompasso a razão de toda minha angústia. O que incomoda está em mim ou eu apenas reflito as condições externas que há muito deixaram de ser objetivas? Quem dá as cartas desse jogo, para o qual sequer são estabelecidas regras explícitas? Por que num dia você é a resposta e, noutro, a causa dos males? Sabe-se lá Deus quem somos nas mínimas frações de tempo as quais somos submetidos. Os artifícios sociais são vastos e reproduzidos intensamente para nós, em nós e por nós mesmos. Quando sou eu e quando são os outros? Parece não haver dúvida de que esse é um processo unívoco, para dizer no mínimo.

Quanto tempo mais levará para que eu tome uma decisão? Uma decisão que seja apenas minha? Acho que nunca. Por mais que seja doloroso assim é e será até o fim dos meus dias. Que eu encontre um lar em mim e que eu compreenda mais, a cada dia, todos os outros. Eu entendia fundamental uma reflexão sobre nós mesmos. Já não sei mais, porque hoje caíram por terra minhas crenças reflexivas. Não quero mais pesar os encontros desde que meu direito de abdicar deles seja preservado. Se sou/estou pesarosa não há mal, se sou o mal ou estou mal, não há problema. Oxalá eu aprenda ou desaprenda, porque em algum sentido terei vencido a mim mesma. Essa que hoje sou já se esqueceu de muitas coisas, mas é também capaz de relembrar o importante: a infinita capacidade que temos de olhar pra trás, sempre que necessário e ainda que inutilmente.

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